Mestre Nêgo, de Barreiras, é ícone da arte popular do território da Bacia do Rio Grande
Mestre Nêgo cede obras para Conferência Territorial da Bacia do Rio Grande em Barreira Foto: Ronaldo Silva
Na Bahia ele é conhecido como Mestre Nêgo, mas na carteira de identidade vem o nome Dilson Dias Almeida, 71. Nada disso importa quando o assunto é assinar as peças: Mestre Nêgo nem assina, nem bota placa na porta. Não gosta de propaganda, prêmio, essas coisas. Mas basta olhar para as esculturas em madeira para reconhecer o traço do artista nascido em Senhor do Bonfim e adotado por Barreiras há um par de décadas. Sapos, tamanduás, carrancas, araras, índios, caiporas, cobras, macacos, onças-pintadas são apenas parte do repertório do artista.
Na verdade, são dois os mestres: ele e o irmão Hélio Almeida, 73. A trajetória começou ainda na infância. A mãe deles, ainda chamada de “mamãe”, costumava fazer lapinhas (presépios) artesanais no Natal. E Dilson já ouvia lobisomen, via caiporas e imaginava a festa dos sapos no céu. Das lendas das matas nascem a maioria das obras, agora feitas em madeira-de-lei, depois de toda uma pesquisa em torno do gesso. Tem até mulher com duas frentes, fruto da imaginação e da sensibilidade de seu Dilson, que também é chefe de um terreiro de umbanda no bairro de Vila Amorim.
As portas do ateliê ficam fechadas durante o dia, mas basta chamar pela janela que ele vem atender. O irmão fica nos fundos, enquanto Mestre Nêgo fala com prazer de sua trajetória. Chegou até a tentar a vida em São Paulo. Trabalhou como operário numa fábrica de pias. Voltou em um ano, decidido a ser artista. Isso foi nos anos 1960, e de lá para cá, a técnica da escultura evoluiu tanto que o mestre tem de optar entre curtir a fama e se dedicar ao ofício.
Ele prefere a segunda alternativa; daí a porta fechada, ao lado do Museu Municipal Napoleão Macêdo, na rua Barão de Cotegipe. Se bem que também adora uma visita. Recebe bem, generoso, gentil e pronto para responder qualquer pergunta.
Basta abrir a porta por um instante que chovem visitantes. Dois vendedores de tapete, um paraibano e um cearense, querem saber como é que Mestre Nêgo trabalha a madeira. Uma família amiga vem mostrar o neném e ver as novidades. E assim vai. Sem contar os turistas, que veem as obras expostas no Palácio das Artes, no centro da cidade, e se interessam pelo artista.
Uma visita nunca é rápida. Tem direito a chuva nas costas do sapo, história de mercador viajante (o pai), lendas de reisados e mágicas de arco-íris que aparecem e desaparecem quando Mestre Nêgo quer. Para os participantes da Conferência Territorial da Bacia do Rio Grande, foi também uma magia poder admirar suas obras no hall de entrada do Centro Cultural de Barreiras, durante o evento.
Arte rupestre na Gruta da Pedra Brilhante, em São Desidério / foto: Ronaldo Silva
Outros patrimônios da região: a arte rupestre em São Desidério e a igreja de Santa Terezinha, no centro de Barreiras.
Igreja de Santa Terezinha, marco da cidade de Barreiras / Foto: Ronaldo Silva